sábado, março 31, 2007

Trevisan denunciado por ex-companheiros

Sob suspeita

Fundador de uma ONG contra a corrupção,
Trevisan agora é alvo da própria ONG


Ronaldo França

Marcelo Ximenez/AE
Trevisan: parentes beneficiados em licitação

O empresário Antoninho Marmo Trevisan já viveu situações explosivas. Foi acusado de usar a amizade com Lula para conquistar clientes no governo, foi coadjuvante de peso no episódio em que a Telemar se associou ao filho do presidente para criar a Gamecorp. Há duas semanas, sua empresa foi multada pelo Banco Central em 500.000 reais por falhas de auditoria que inflaram os resultados no balanço do Banco Mercantil Finasa. Apesar de chamuscada, sua biografia escapou da incineração. Em parte porque, nos anos 90, Trevisan ajudou a fundar, em sua terra natal, Ribeirão Bonito, no interior de São Paulo, a ONG que se tornou referência no combate à corrupção na administração pública. Depois de cassar um prefeito local, a Amigos Associados de Ribeirão Bonito (Amarribo) passou a prestar assessoria a cidades do Brasil inteiro. Por isso é tão surpreendente que parta justamente da Amarribo uma acusação que atinge Trevisan em cheio. A ONG protocolou no Ministério Público do Estado de São Paulo uma denúncia de direcionamento em licitação municipal para a elaboração do projeto de uma escola. O vencedor da concorrência foi o cunhado de Trevisan. Disputaram com ele a filha de um vizinho do empresário em São Paulo e um escritório de arquitetura associado ao paisagista que remodelou os jardins de sua casa. Trevisan é citado nominalmente na denúncia.

Paulo Pinto/AE
Cunha: promessa de verbas federais e uso oportunista do nome da ONG


A Amarribo também suspeita de fraude na documentação. As fichas de cadastro de duas das empresas foram baixadas dos computadores da Receita Federal com 43 segundos de diferença uma da outra. "Há indícios que precisam ser investigados", afirma o promotor Marcel Zanin Bombardi. A responsabilidade pelo processo de licitação é do prefeito Rubens Gayoso, do PT. Mas Trevisan pode ser considerado seu fiador político. Apoiou sua candidatura e foi um dos principais financiadores de sua campanha. O apoio de Trevisan a Gayoso constrangeu os membros da ONG, que fizeram vários alertas sobre a conduta do prefeito. Gayoso já responde a outras duas ações. Uma por fraude na prestação de contas eleitorais e outra por licitação fraudulenta. Mas a ruptura se deu quando a Amarribo cobrou transparência na prestação de contas dos gastos do prefeito, que se recusou a mostrar os documentos sem decisão judicial. Trevisan, que preside o Conselho do Prêmio Nacional de Gestão Pública, criado para estimular boas práticas de gestão, apoiou as negaças do prefeito e se afastou da ONG. Acusou-a de ter se distanciado de seus objetivos. "Ele é que traiu os princípios da Amarribo", afirma o presidente da entidade, Sérgio Ronco.

Pesa também sobre a prefeitura a suspeita de desvio de recursos federais. A Amarribo solicitou à Controladoria-Geral da União uma perícia em obra feita com recursos do Ministério da Integração Nacional. Avaliada em 2,5 milhões de reais, a obra não teria custado 500.000 reais. Na última campanha eleitoral, o deputado petista João Paulo Cunha, amigo do empresário, usou o nome da Amarribo em panfleto. Apresentou-se como o homem que obtém verbas federais para a cidade. Na semana passada, um ex-assessor de Cunha, abrigado nos quadros da prefeitura, fez ameaças veladas a um funcionário da ONG. Tudo isso jogou ainda mais lenha na fogueira em que o relacionamento de Trevisan com a Amarribo vinha sendo queimado. Procurado por VEJA, Trevisan disse que não teve sequer conhecimento da licitação objeto da denúncia da Amarribo.