sábado, novembro 25, 2006

Aloprados do PT combinam defesa e se fazem de vítimas

Só falta dizer
que era miragem

É espantoso o cinismo dos envolvidos
no dossiêgate. Mais um pouco e
negariam até mesmo a existência
do dinheiro apreendido pela polícia


Victor Martino


Dida Sampaio/AE
/AE
Lorenzetti (à esq.) e o dinheiro que compraria o dossiê: ainda bem que o delegado Bruno divulgou a imagem

As declarações feitas no Congresso na semana passada pelo "aloprado" Jorge Lorenzetti deixaram estarrecidos parlamentares da CPI dos Sanguessugas, que investiga o dossiêgate. A perplexidade dos deputados se deu menos pelo que revelou o depoente e mais por aquilo que ele escondeu, com a naturalidade de quem faz essas coisas sempre. Lorenzetti foi chefe da equipe de – é assim que eles chamam seus porões – "inteligência do PT". Também atua como churrasqueiro do presidente Lula nas horas vagas. Ele afirmou, entre outras coisas, não ter "a menor idéia" de onde veio o 1,7 milhão de reais que seria usado para comprar o dossiê antitucano. Embora parte do dinheiro tenha sido flagrada em poder de um subordinado seu, Gedimar Passos, o churrasqueiro disse que nunca perguntou sobre a origem das notas. "Esse assunto é um trauma para mim", declarou. Outros dois petistas envolvidos no escândalo, Expedito Veloso e Osvaldo Bargas, repetiram o discurso cínico de Lorenzetti à CPI. Além de declararem desconhecer a origem do dinheiro, insinuaram a existência de um suposto pagamento de dívidas de campanha de José Serra pela Planam, a empresa de Darci e Luiz Antonio Vedoin. Tentar envolver o governador eleito de São Paulo no caso é a mais nova tática adotada pelos petistas para desviar o foco das investigações – cada vez mais próximas da Petrobras.

A CPI já havia detectado episódios estranhos envolvendo a estatal e os "meninos". Ao longo das sete semanas que antecederam a publicação, pela revista IstoÉ, da entrevista em que os Vedoin acusavam Serra de envolvimento com a máfia dos sanguessugas, Hamilton Lacerda – ex-assessor do senador Aloizio Mercadante e apontado como o homem que levou o 1,7 milhão de reais até Gedimar – conversou por telefone 36 vezes com Wilson Santarosa, responsável pela publicidade da Petrobras. Para justificar as ligações, a Petrobras, inicialmente, informou que Lacerda queria ingressos para o Grande Prêmio de Fórmula 1, que tem patrocínio da estatal. Como a desculpa automobilística derrapou logo na saída, Santarosa disse depois que Lacerda ligou porque queria o seu auxílio na campanha de Mercadante ao governo. A CPI tem outra desconfiança. Diz o deputado Carlos Sampaio, do PSDB: "Os telefonemas levantam a suspeita de que a Petrobras tenha oferecido anúncios à revista IstoÉ como pagamento pela publicação da entrevista contra Serra".

O que a CPI acaba de saber é que o contato de Lacerda com a Petrobras não se limitou a Santarosa (veja coluna de Diogo Mainardi). Às vésperas de negociar a entrevista dos Vedoin com a IstoÉ, o assessor de Mercadante conversou com Eduardo Godoy, presidente da agência de publicidade que tem a conta da Petrobras e íntimo do petismo (coordenou campanhas de Lula e da ex-prefeita Marta Suplicy). VEJA perguntou a Dudu Godoy, como ele é conhecido, se ele havia de fato ligado para Lacerda. Godoy disse não saber. Inquirido pela segunda vez, desligou o telefone. Horas depois, sua assessoria procurou a revista para confirmar os telefonemas e informar o motivo – coincidentemente, o mesmo apresentado por Santarosa: Lacerda estaria buscando ajuda para a campanha de Mercadante. A julgar pelos argumentos dos envolvidos no dossiêgate, eles são vítimas de uma série de coincidências incríveis e nenhum dos episódios é o que parece ser. Mais um pouco, e negariam a própria existência do dinheiro usado para comprar o tal dossiê. Só não o fazem porque o delegado Edmilson Bruno divulgou as fotos da dinheirama, contrariando a orientação do governo. Você pode até escapar, Lorenzetti, mas esse trauma é incancelável.