quinta-feira, setembro 28, 2006

Coronelismo "muderno"


Artigo - Plínio Fraga
Folha de S. Paulo
28/9/2006

Roseana Sarney é sócia da TV Mirante, a afiliada da Rede Globo no Maranhão. A TV Mirante promove debate entre os candidatos ao governo do Maranhão. Roseana Sarney é a candidata do PFL. Seus adversários vão ao debate, mas a sócia da TV Mirante falta ao debate, argumentando que o debate da TV Mirante "não contribui para o futuro do Maranhão".
O coronelismo político não só não acabou como se modernizou. O coronelismo agora é eletrônico e, à sua maneira, vai dando respostas ao capitalismo globalizado.
A Rede Globo, purgando ao menos parte dos seus pecados eleitorais, obriga suas afiliadas a realizarem debates. O risco de uma emissora ignorar a orientação não é político, é econômico: perder a retransmissão no Estado da líder de audiência. A Rede Globo tenta enquadrar as afiliadas estabelecendo as regras para o debate e enviando jornalistas da sua elite para mediá-los. Tonico Ferreira, de São Paulo, foi deslocado para São Luís.
Mas o coronelismo faz suas traquinagens. Em vez de convidar só os candidatos com representação na Câmara, com chances mais reais na disputa, chama todos os postulantes. No Maranhão, eram oito. Roseana e um nanico (em razão de doença) não foram. Seis participaram. No Rio, por exemplo, foram ao debate os cinco candidatos principais, deixando fora os nanicos.
Um candidato de oposição reclamou que a entrevista -também imposta pela Globo- no telejornal local do Maranhão, da TV Mirante, foi encerrada sete segundos antes do combinado. Pode ser só bizarrice de oposicionista, mas não é difícil supor ali o dedo do coronel.
Roseana tem 60% das intenções de voto e acha que debates políticos não contribuem para o futuro do Maranhão. Donde se conclui que o Maranhão não tem futuro. O coronelismo "muderno" sim.