terça-feira, julho 25, 2006

Luiz Garcia - Sem pedir desculpas

O GLOBO


Sem pedir desculpas

Nunca escrevi um artigo que produzisse reação tão imediata, extensa e majoritariamente negativa como a que se seguiu às minhas opiniões (quase escrevi “modestas opiniões”, mas seria falsidade: não há modestos neste ofício) sobre a ofensiva de Israel contra o Líbano.

Por falta de tempo para obter autorização de todos para a reprodução, aqui vai amostra anônima. Serve pelo menos para mostrar tanto argumentos como a intensidade do envolvimento emocional. Lá vai, como informação, sem pedido de desculpas:

“Antes de iniciar sua defesa contra o Hezbollah, o Estado de Israel não sofreu ‘apenas’ o seqüestro de seus soldados. Antes do dia 13 deste mês, mais de 100 foguetes já haviam sido disparados pelo Hezbollah contra território israelense, com mais de 90 civis feridos, e diversos mortos.”

“Seu artigo, ao condenar a única alternativa de defesa do Estado judeu, acaba por colocá-lo lado a lado com aqueles que não só clamam, mas agem, para varrer Israel do mapa.”

“O que dizer dos 30 mortos em Israel desde o início deste confronto atingidos por foguetinhos ingênuos atirados a esmo por terroristas abrigados pela tríplice aliança, Irã-Síria-Líbano. Violência cega é a vossa forma de escrever, e covardia é usar o espaço do jornal, onde sabe que não haverá réplica para as palavras que ficarão registradas pelo teu artigo.”

“...que dificuldade, que terríveis exigências sintáticas e exercícios históricos para condenar um genocídio, como o praticado por Israel!... Mas, pelo menos, parabéns!, é o raríssimo (talvez único!) caso de honestidade intelectual de condenação ao massacre perpetrado contra famílias de civis pelo segundo mais moderno exército do mundo.”

“...não pode ser coincidência que os ataques recentes aos israelenses... são uma tentativa clara de sabotar a decisão israelense de se retirar de territórios ocupados, para que se estabeleça um Estado palestino (no modelo que a ONU aprovou em 1947: dois Estados para dois povos)...”

“A turma do Hitler e seus atuais seguidores não vacila em atacar cemitérios judeus fora de Israel e se forem convocados provavelmente partiriam para um novo empreendimento, tipo ‘Novas Cruzadas’.”

“Infelizmente, os terroristas propositadamente se esconderam e armazenaram seus mísseis em áreas residenciais, colocando em risco as populações civis nas cercanias.”

“...quero reconhecer (não há como aplaudir ou parabenizar diante de tamanha desgraça) sua lucidez, imparcialidade e coragem, afinal, o senhor faz parte da maior organização midiática do país e é preciso coragem para tomar posições corretas e imparciais em relação a Israel, afinal, seus nacionais são as vítimas eternas”.

“...é importante reconhecer o esforço que Israel vem tendo neste último ano em busca da paz com seus vizinhos, e como esse esforço israelense não tem tido reciprocidade e tem sido em vão”.

“Israel irá fazer o que tem de ser feito, se precisar bombardeia a Síria!... Israel atacará o Irã se este insistir em processar urânio para fazer bombas nucleares... o seu artigo, ou é desconhecimento do assunto, ou é safadeza intelectual mesmo, como foram todos os seus artigos sobre o desarmamento.”

São dez reações, oito contra e duas a favor do articulista. É amostra razoavelmente proporcional ao todo.