terça-feira, julho 25, 2006

Jânio de Freitas - O silêncio conivente




Folha de S. Paulo
25/7/2006

As dificuldades postas pelo governo israelense à saída de brasileiros em fuga são um ato de hostilidade ao Brasil

A VIOLAÇÃO MÚLTIPLA das leis humanitárias internacionais pelos militares de Israel já foi oficialmente estabelecida, no domingo, pela inspeção preliminar da ONU no Líbano. Mas as dificuldades postas pelo governo israelense à saída de brasileiros em fuga vão além do que a ONU proclama. São um ato de hostilidade explícita ao Brasil. Tão mais injustificado quanto nem o habitual pretexto de provocação o governo de Israel pôde invocar. Apesar disso, o governo brasileiro não foi capaz de apresentar sequer o protesto convencional e formalmente burocrático, ao menos para não se mostrar tão conivente, como já sugerira o seu silêncio, com a comunidade de responsáveis pelos crimes de guerra e de desumanidade no Oriente Médio.
Os esforços do Itamaraty junto ao governo de Israel, para obter garantia de que comboios brasileiros não sejam atacados, nem ao menos pronta resposta têm recebido, ainda que negativa. E a negativa é mesmo a resposta a ser esperada pelos brasileiros em fuga, sob formas diversas como, por exemplo, a imposição de que certo comboio fizesse um percurso de 14 horas para uma viagem que não precisaria de mais de hora e meia. Israel tem controle aéreo absoluto das estradas, e não teria dificuldade em informar seus pilotos sobre a estrada a poupar em determinado horário. Apenas uma pequena frustração no apetite letal com que ônibus de civis, caminhões de víveres e medicamentos e até ambulâncias são atacados pelos caças.
As queixas dos brasileiros em fuga do Líbano são justificadas, mas não convém que recaiam sobre os diplomatas do Itamaraty incumbidos das operações, aqui e no exterior. As informações disponíveis atestam seu esforço e sua eficiência. E não falte uma palavra de louvor à iniciativa da TAM, que desloca amanhã um Airbus, sem ônus, para recolher refugiados brasileiros.
Desconheço se a responsabilidade pela falta de protesto do Brasil cabe a decisão de Lula, sempre tão disposto a agradar Bush, ou ao ministro Celso Amorim, aparentemente mais interessado, nas últimas semanas, em questões comerciais de Doha, G8 e outras enrolações. Seja de quem for a responsabilidade, dá no mesmo: é uma humilhação internacional do Brasil.

Sanguessuga
O senador petista Sibá Machado já devia estar expulso da CPI dos Sanguessugas, por levar a um depoimento secreto um assessor da senadora petista Serys Slhessarenko, que figura entre os denunciados. Mas não só. Já devia estar sob processo por falta grave de ética: mesmo depois de constatada a presença irregular, Sibá Machado tentou ludibriar a CPI de que é membro, com a reiteração da mentira de que o intruso era assessor seu.