quarta-feira, junho 28, 2006

PCC convoca reservas para guerra O Estado de S. Paulo


Escutas mostram que facção cadastra integrantes, aumenta dízimo e
planeja como apoiar famílias de mortos


Marcelo Godoy
O Primeiro Comando da Capital (PCC) está se preparando para a guerra.
Vai aumentar seu caixa, comprar cestas básicas no atacado que serão
distribuídas às famílias dos mortos e está fazendo um cadastro de
todos seus integrantes em liberdade. O comando da facção quer ainda
saber quais são chefes das quadrilhas e dos pontos-devenda de drogas
sob o controle da organização. Por fim, o PCC já encontrou uma
solução para enfrentar a falta de telefones celulares: contratar
advogados que servirão para 'manter a disciplina e a comunicação'.
Todos esses dados foram obtidos pela inteligência da Polícia Civil.
Um delegado que investiga o grupo comparou o recenseamento feito pelo
grupo com uma convocação de reservistas pelos exércitos em guerra. A
convocação do PCC para a guerra foi interceptada pela polícia às
13h33 do dia 22 de junho.
Nela, um preso chamado Disciplina conversa com Viviane, mulher de BH,
líder da facção.
O que a polícia ainda não sabe é se a guerra se estenderá a todo o
Estado ou se ficará restrita à região do ABC, pois os bandidos dessa
região não se envolveram suficientemente nos ataques de maio, quando
o PCC fez mais de 300 atentados no Estado, matou 42 policiais e
liderou 74 rebeliões em presídios.
Os bandidos do ABC estariam agora sendo cobrados por chefes da
facção. Foi nessa região que uma ação policial anteontem deixou
mortos 13 acusados de pertencer ao PCC. O grupo ia cumprir o primeiro
ato da guerra: matar pelo menos cinco funcionários do Centro de
Detenção Provisória (CDP) de São Bernardo do Campo.
Uma coisa, porém, é certa: o salve (como são chamadas as ordens) é
'geral', ou seja, vale para toda a organização e está assinado pela
'sintonia geral', que é a cúpula do PCC. A ordem é dirigida aos
'sintonias da rua interna e externa e setores de caixa e de cesta
básica'. Os sintonias são todos os integrantes do PCC que participam
das conferências por telefone e repassam as ordens dos chefes. Acima
deles estão os torres, espécie de coordenadores, e os pilotos,
gerentes de uma área de cidade ou parte de prisão. A sintonia da rua
interna refere-se aos presos e a da externa é dirigida aos bandidos
em liberdade.
Pela ordem, todo integrante do PCC em liberdade deve aumentar a
contribuição mensal de R$ 600,00 para R$ 1 mil. O salve determina
ainda que as 'cestas básicas devem ser compradas por atacado' para
diminuir gastos. A facção deixa claro seu objetivo com essas medidas.
'Uma parte das cestas e outra da caixa serão distribuídas para os
familiares dos irmãos (integrantes do PCC) e companheiras que vierem
a perder a sua vida nessa guerra.' Os coordenadores da facção nas
ruas e nos presídios devem ainda fazer 'um cadastro de todos os
irmãos que estão na rua' e saber como encontrá-los. O censo do PCC
inclui o levantamento de todas as 'lojas e respectivos donos'. Lojas
são os pontos-de-venda de droga.
Também devem ser levantados os nomes dos homens e mulheres do grupo
que morrerem na guerra. Os dados devem ser passados à 'sintonia
geral'. ?