terça-feira, junho 27, 2006

Eliane Cantanhede - Guerra de monarcas





Folha de S. Paulo
27/6/2006

Embalado pelas pesquisas e pelo farto espaço de mídia típico de reeleição, Lula está levando a campanha para o terreno que lhe é mais fértil. Está, na verdade, conduzindo a campanha. Alckmin apenas corre atrás. Ou tenta. Lula tem um discurso -o de que precisa "aprofundar" as maravilhas e os feitos do primeiro mandato, pois a prioridade agora vai ser (ufa, enfim!) a redução da desigualdade e da injustiça social. E Lula escolheu, livremente, seu adversário. Não é mais Serra, nunca chegou a ser Alckmin. É Fernando Henrique Cardoso. A "herança maldita", queira o governo ou não, não era tão maldita assim e foi a alavanca para os índices que Lula agora esgrime como arma de campanha. Na verdade, ele herdou um processo, continuou esse processo e está se beneficiando eleitoralmente dele. E usando-o contra o antecessor. No domingo, Lula atacou os anos FHC e se disse "caluniado". No dia seguinte, as manchetes da convenção do PSDB que lançou Serra ao governo de São Paulo não foram nem com o próprio Serra nem mesmo com Alckmin. Foram com FHC, dizendo que Lula só ganha dele em "corrupção" e em "publicidade". Isto tudo não chega a ser uma campanha, digamos, propositiva. Vamos ficar todos assistindo a um festival de agressões e de comparações, com uma competição sobre qual é o governo mais corrupto. Enquanto o que interessa está nos bastidores: Lula cimentando a aliança com o PMDB de Sarney, Renan e Jader, arquitetando a cooptação de tucanos presidenciáveis e sonhando com um tal "partidão" de esquerda, centro e direita. Ou seja: o Lula que negou apoio até mesmo ao consensual governo Itamar Franco agora joga o PT para o alto e quer colher uma coalizão nacional. Daí em diante, só vai faltar a volta da monarquia.