domingo, maio 28, 2006

LUÍS NASSIF O MoMA e o Masp

FOLHA


A contrapartida para ser aceito em tal instituição [MoMA] era a de contribuir para sua manutenção

ALGUM TEMPO atrás, o sonho de status de dez em dez milionários brasileiros era ser do Conselho do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York. Pouquíssimos conseguiram, pois necessitavam casar bom gosto, discrição, padrinhos influentes e... recursos financeiros. A contrapartida para ser aceito em tão prestigiosa instituição era a de contribuir para sua manutenção.
O Masp (Museu de Arte de São Paulo) é um dos melhores museus do mundo. Foi um ato benigno de megalomania do jornalista Assis Chateaubriand. Do Brasil, o acervo incorporou Anita Malfatti, Volpi, Lívio Abramo, Portinari, Flávio de Carvalho, Almeida Júnior entre muitos outros. Da França, importou Monet, Delacroix, Matisse, Toulouse-Lautrec, Marc Chagall, o basco Picasso, esculturas de Rodin. Da Itália, adquiriu Modigliani, Boticelli, Tiziano. Tem Rembrandt, Rubens, Bosch.
Durante algum tempo, o Masp serviu de álibi para as façanhas de Edemar Cid Ferreira, o banqueiro-mecenas responsável por um dos maiores rombos da história do sistema financeiro brasileiro. Mas foi um acidente de percurso. A diretoria do Masp é uma constelação de nomes tradicionais, uma elite discreta e de bom gosto.
O presidente é o arquiteto Júlio Neves, o "rei" da Faria Lima, um dos mais prestigiados e bem-sucedidos da praça. O vice é Plínio Salles Souto, o último dos gentil-homens e que, nos anos 50, estimulado por Assis Chateaubriand, contribuiu com um quadro relevante para o acervo do museu, se não me engano um Rembrandt.
O secretário-geral é João da Cruz Vicente de Azevedo, dono de um acervo portentoso, que inclui obras de Benedito Calixto. O tesoureiro é Luiz de Camargo Aranha Neto, sócio de uma das mais prestigiadas bancas de advocacia da praça. Entre os diretores, tem dona Beatriz Pimenta Camargo, que também é do "board" do MoMA. O sogro de sua filha é Aloisio Rebello de Araújo, dono da CBPO. E tem Manuel Francisco Pires da Costa, homem de finanças muito bem-sucedido e um bom intérprete de sambas-canções.
O Conselho Deliberativo é outra constelação onde brilham cirurgiões consagrados, como Adib Jatene e José Aristodemo Pinotti, publicitários de sucesso, como Alex Periscinotto e Nizan Guanaes, a condessa Graziella Leonetti, filha do conde Luiz Eduardo Matarazzo, o único do clã que manteve uma sólida fortuna imobiliária. Tem Pedro Franco Piva, da Klabin, o advogado Paulo José da Costa Júnior, o rico criador de gado Jovelino Mineiro, o banqueiro Antonio Beltrán Martinez.
Pois é essa casa, que honra tanto os seus membros, conselheiros e diretores, que orgulha São Paulo, que teve sua energia elétrica cortada por conta de um débito de R$ 3 milhões, muito para os mortais comuns, pouco para esse ilustre colegiado de ricos e notáveis.
Que tal começar a importar os aspectos mais sadios e meritórios da sociedade americana e de Wall Street, e os ilustres diretores e conselheiros começarem a correr o pires? Será uma maneira de demonstrar ao Brasil que os ricos de São Paulo vão muito além do provincianismo deslumbrado de uma Daslu.