sexta-feira, abril 28, 2006

O epílogo da crise Ricardo Noblat

O epílogo da crise

Salvo um acidente de percurso do tipo alguém abrir o bico como fez Roberto Jefferson em meados do ano passado ou da mídia descobrir algum novo escândalo, a crise política se esgotou.

 

Entre mortos e feridos, escapou mais ou menos incólume o presidente da República. A respeito dele, o relatório final da CPI dos Correios nada trouxe. Nem a denúncia do Procurador Geral da República. Nem trará o relatório final da CPI dos Bingos.

 

Durante mais de um ano, deputados receberam grana da dupla Marcos Valério-Delúbio Soares para votar com o governo – mas Lula, coitadinho, foi o último a saber. E quando soube não quis acreditar.

 

E se lhe perguntarem hoje se acredita que o mensalão existiu, ele será capaz de responder que não. Ou então que o caso está entregue à Justiça. Caixa 2 do PT, tudo bem. É uma prática corriqueira entre os partidos, como ele mesmo o disse.

 

Uma quadrilha tomou conta de parte do aparelho do Estado, mas outra vez Lula não viu, não ouviu e não soube de nada. Foi obra dos que o traíram – embora ele nunca tenha dado nome aos traidores.

 

Ninguém lhe perguntou sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos, aquele que viu o ex-ministro Antonio Palocci na alegre mansão de Brasília alugada pela "República de Ribeirão".

 

Como querem, pois, que ele fale a respeito?

 

Bola para frente. E redondinha.

 

A economia vai bem, obrigado – e o ânimo da massa sem rosto costuma corresponder ao estado dela. Renan Calheiros, presidente do Senado e aliado de Lula, não deixará que seja ouvido ali o ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça.

 

O que o ministro tinha a dizer a respeito da quebra do sigilo bancário do caseiro já disse em depoimento na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

 

A oposição perdeu a frágil maioria que tinha na CPI dos Bingos. O sigilo bancário de Paulo Okamotto, presidente do Sebrae e tesoureiro informal da família Lula da Silva, permanecerá intacto.

 

Senadores e deputados só pensam nas eleições. Do Congresso não sairá mais nada – salvo a absolvição dos mensaleiros que ainda não foram julgados.

 

Capenga a candidatura do principal adversário de Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin. E o PMDB se prepara para rifar a candidatura a presidente de Garotinho, atingido pela denúncia de que recebeu R$ 700 mil doados por três empresas que ganharam sem licitação contratos com o governo do Rio no valor de R$ 112 milhões.

 

Parte do PMDB deve apoiar a reeleição de Lula. Mas ele ainda espera contar com a maioria do PMDB.

 

Eleição é uma caixinha de surpresas. Mas se ela guarda alguma lógica, Lula será reeleito.