sábado, abril 29, 2006

Criminalidade explode no governo Chávez

VEJA
Na mão do bandido

No governo de Chávez, Caracas se tornou
a cidade mais violenta da América do Sul


José Eduardo Barella


Juan Barreto/AFP
Protesto contra o crime em Caracas: amigos do regime dominam a polícia

Estatísticas costumam ser um bom termômetro das realizações de um governante. O indicador social que mais cresce nos sete anos em que o presidente venezuelano Hugo Chávez está no poder é o da criminalidade, o que dá uma idéia da qualidade de seu governo. Sob Chávez, o número de homicídios na Venezuela triplicou. Foram mais de 72.000 assassinatos, e as estatísticas se referem apenas aos primeiros cinco anos – depois de 2004, o governo simplesmente baniu a divulgação de dados oficiais sobre a violência. Outros índices de criminalidade também dispararam no período. A quantidade de seqüestros cresceu em média 30% por ano. Para completar o quadro desolador, multiplicou-se por quatro o número de mortos em confronto com a polícia.

O que explica tamanho fiasco de Chávez no combate ao crime? O controle da violência era uma de suas prioridades na campanha que o elegeu, em 1998 – assim como a redução do desemprego e da miséria, outras mazelas sociais que se agravaram sob seu governo. Uma explicação está no populismo do presidente venezuelano. Em vez de profissionalizar a polícia, ele preferiu nomear aliados políticos e militares para os principais postos de comando. Chávez também investiu sobre o Judiciário, assegurando maioria na Corte Suprema com a nomeação de juízes escolhidos a dedo. "O controle político do Judiciário e da polícia abriu caminho para a impunidade, pois nenhum juiz ou delegado vai desagradar integrantes do governo", disse a VEJA o cientista político Alfredo Ramos Jimemez, da Universidade Los Andes, em Merida.

Não surpreende que Caracas tenha se transformado, sob Chávez, na cidade mais violenta da América do Sul, ocupando o posto que já foi do Rio de Janeiro. As duas cidades têm muito a lamentar em comum, como o aumento da corrupção, principalmente na polícia. O Rio também viu o crime organizado florescer sob os braços de governos populistas, de Chagas Freitas, nos anos 70, ao casal Garotinho. Nos anos 80, banqueiros do jogo do bicho chegaram a ser recebidos no Palácio Guanabara pelo governador Moreira Franco. Na Venezuela, é cada vez maior a ligação de policiais com o crime organizado. Em fevereiro, três irmãos adolescentes, de 12, 13 e 17 anos, de uma família de classe média alta foram seqüestrados a caminho da escola. Seus corpos e o do motorista da família foram encontrados no mês passado, com marcas de tortura. Todos foram executados com um tiro na nuca depois que a família não conseguiu juntar o dinheiro do resgate, 4,5 milhões de dólares. Entre os suspeitos presos estão doze policiais e ex-policiais. Indignadas com o crime, mais de 80.000 pessoas protestaram nas ruas de Caracas no último dia 22, sábado.
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