sábado, janeiro 28, 2006

MILLÔR


Notáveis (notas fora do comum)

I Revelado: o PT é a terceirização do PCB.

II Fiquem tranqüilos os que estão no poder – nenhum humorista atira pra matar.

III Internet – de frente pro mundo, de costas pro em volta.

IV Pra mim artistas têm que sofrer. Ser anão, como Lautrec, cortar orelha, como Van Gogh, contrabandear armas, como Rimbaud, morrer na miséria, como Grosz. Cara que, como eu, ganha dinheiro com o que faz não merece o menor respeito.

V Agora, já iniciada outra corrida ao Poder Central, volto a defender o meu Voto Contra. Na convicção de que todos têm mais certeza de quem não querem no Poder do que quem querem (que aliteração, Millôr!).
Proponho assim: todo eleitor tem direito a dois votos. Um a favor e outro contra – o Voto de Rejeição.
Deduzem-se os votos negativos dos votos positivos e obtém-se o número de votos válidos.
Inúmeros candidatos, mesmo com grandes currais e muito dinheiro, não serão eleitos.
O candidato com mais votos negativos receberá 100 chicotadas. Ou 20 chibatadas.

VI Etimologia: no Olimpo ninguém pedia desculpas tão bem quanto Apolo. Isso ficou conhecido como apologia.

VII Como os italianos não têm palavra que diferencie sobrinhos e netos (tudo é nepote), os papas criaram o nepotismo, distribuindo cargos e santidades para filhos (!) e parentes. Logo todo o poder laico, civil e militar, adotou a prática. O Brasil, país muito legal (cheio de leis), agora tem postura decidida contra isso. Ninguém pode usar o bem público pra beneficiar pai, mãe, filhos e, claro, a vizinha de minissaia. Se a lei não é cumprida, são outros quinhentos – "isso faz parte de nossa cultura".
Mas, em princípio, isso deve funcionar também em sentido contrário. Se o cidadão não pode usar o bem público, o Estado não pode avançar sobre o bem mais sagrado do indivíduo – seu corpo e respectivos miúdos. Ou seja, a negação do nepotismo não pode tirar do cidadão o direito de legar tudo que é visceralmente (valha o termo) seu a parentes até, digamos, a segunda geração de precedentes e conseqüentes (sem esquecer a vizinha de míni). Depois eu me explico.

VIII Para acabar com o desemprego o Planalto precisa primeiro acabar com o desentrabalho.

IX Claro, não se pode evitar o nascimento nem a morte. Mas não dá pra melhorar um pouco o intervalo?

X Brasileiro, profissão esperança. Isto é, um desesperado.

Os trinta Valérios

Fotógrafos do Império (239 págs., 30x26, Ed. Capivara), de Bia e Pedro Corrêa do Lago, é um livro emocionante, pra quem, como eu, é tarado por fotografia. Sobretudo as antigas, já definidas e consagradas pelo tempo. E, como eu, acredita que a palavra – bem usada – está acima de tudo, define, completa e embeleza qualquer foto. Por isso – coisa rara – lê os textos dos livros de fotografia. Neste livro imagem e palavra compõem um conjunto imperdível.

Editado originalmente em francês, traduzido agora para o português (o texto, as fotos não foram traduzidas), o livro-documento reproduz 320 imagens, compondo a melhor antologia de fotos brasileiras publicadas até aqui.

Vão do ano 1835 até o ano 1901. Quando Valério Vieira fez esta surpreendente composição, com 30 fotos dele mesmo.

Reproduzindo a foto ajudamos a CPI do Mensalão, que até hoje não descobriu a origem do Valerioduto. Aqui está.

Não começou no governo Lula. Começou no governo Campos Salles.The image “http://veja.abril.com.br/010206/imagens/millor1.jpg” cannot be displayed, because it contains errors.