terça-feira, agosto 30, 2005

CLÓVIS ROSSI Saiam já daí, indecorosos

FOLHA DE S PAULO
 SÃO PAULO - O Brasil não seria o país da "enrolation" se não discutisse um assunto absurdamente inútil, que é saber se houve ou não "mensalão" para parlamentares.
Menos mal que um deputado, Júlio Delgado (PSB-MG), ponha as coisas no devido lugar ao dizer: "Qual a diferença entre um deputado que recebeu recursos mensalmente e outro que recebeu para pagar despesa de campanha? Nenhuma. Ambos ficam comprometidos com o governo".
Só faltou acrescentar que é irrelevante, absurdamente irrelevante, saber se os congressistas se venderam em suaves prestações mensais ou em uma, duas ou três tacadas só. Em qualquer caso, está caracterizada a falta de decoro e, por extensão, a necessidade de cassar os mandatos dessa turma toda.
Ou por acaso é indecoroso receber "mensalão" mas é decente vender-se em apenas uma ou duas parcelas? Seria risível discutir a questão não fosse este o país da permanente tentativa de trambique.
Houvesse uma liderança congressual minimamente séria, em vez de Severino Cavalcanti, e o processo de cassação já estaria concluído. O crime está provado, pela confissão de quem pagou (Delúbio Soares e Marcos Valério) e pelo reconhecimento de quem recebeu (os 18 da lista que o relator Osmar Serraglio promete fazer). Não há defesa para essa gente. Podem alegar o diabo como motivo para receber o dinheiro. Continuarão sendo indecorosos -e, portanto, obrigatoriamente cassáveis.
Todo o resto é embromação, é argumento de advogado de porta de cadeia, o que não deveria caber no Congresso Nacional houvesse um mínimo de vergonha na cara da maioria dos parlamentares.
Pode, sim, haver crimes adicionais, mas, como não é possível cassar mais de uma vez o mesmo deputado, que sejam eliminados já aqueles sobre os quais está tudo comprovadinho da silva e que prossigam as investigações, até para saber de quem veio o dinheiro do "PTduto".