Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 30, 2005

Tales Alvarenga Erro tático

VEJA

"A garrafa da crise está desarrolhada e não é
mais possível voltar
a fechá-la. O presidente
Lula deve ser convidado a baixar a cabeça,
sim. Para ver melhor onde está pisando"

O presidente Lula faria bem a sua biografia e à tranqüilidade do país se parasse de tentar fazer os brasileiros de bobos. É tão caricata sua iniciativa de culpar a elite pela crise que enfrenta, são tão patéticos seus discursos diante de sindicalistas, fingindo que tem o proletariado a seu lado contra a burguesia, tudo isso é tão simplório, tão anacrônico que quem está no papel de bobo é ele mesmo – Luiz Inácio Lula da Silva. Desorientado, Lula se encaminha para um campo minado, olhando para cima, para as nuvens.

A tentativa de instigar os humores da massa sindicalizada contra os imaginários venenos destilados pela elite reflete, em escala menor, as táticas aplicadas na Venezuela por seu amigo, o coronel Hugo Chávez. Se existe alguma inspiração desse tipo, ela não é nem um pouco aconselhável.

Só nos faltava essa. Depois da descoberta da quadrilha mafiosa de petistas que assaltava o Estado para garantir sua permanência no poder, isso debaixo das barbas e das vistas do presidente da República, o Brasil tem de conviver com um Lula que recorre a truques que desonram sua inteligência e seu senso de realidade.

Diz Lula que a elite brasileira quer fazê-lo baixar a cabeça e tenta dar-lhe lição de moral. A elite brasileira tem dado provas de que fará o que estiver a seu alcance para que o mandato do presidente não corra nenhum risco de interrupção fora da data prevista para seu encerramento. A elite é, neste momento, uma aliada do bom senso e, por isso, não quer contribuir para alimentar a crise política que está aí – e uma potencial crise econômica, que poderá vir se as fronteiras da razão ficarem sob ameaça de rompimento.

O assalto ao Estado não é uma exclusividade petista. Viu-se, nos últimos dias, um desfile de denunciados que conta também com estrelas do PSDB, do PFL e, principalmente, dos partidos menores que constituem a chamada base de apoio do governo. Essa base, conforme o que já ficou claro na CPI dos Correios, era comprada com o dinheiro desviado pelo PT dos cofres de empresas públicas e particulares. Políticos de outros partidos também receberam as "doações" realizadas por meio de empréstimos ilícitos e pagamentos por serviços de publicidade com valores inflados. No entanto, nessa fabulosa rapinagem, a maior já vista na história do país, o PT é o principal ator. Ele é o responsável pela existência do aparelho delinqüente.

A garrafa da crise está desarrolhada e não é mais possível voltar a fechá-la. A pressão criada no interior da garrafa pela fermentação da ganância, rivalidades, inveja de classe, fome de poder, ódio, culpa e pânico parece destinada a expelir tudo o que existe dentro dela, até a última gota. A análise do que vier à tona é que se tornará decisiva. E, nesse ponto, a interpretação até agora feita pela elite é muito cuidadosa em relação ao papel do presidente Lula nas ocorrências investigadas pela CPI. O presidente deve ser convidado a baixar a cabeça, sim. Para ver melhor onde está pisando.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog