terça-feira, maio 31, 2005

A VITÓRIA DO "NÃO"

Por uma significativa margem de dez pontos percentuais, os franceses disseram "não" ao que seria a nova Constituição européia. Os ecos da rejeição se fazem sentir tanto no plano europeu como no front doméstico francês.
Internamente, o presidente Jacques Chirac, um dos grandes derrotados, deve anunciar hoje a dissolução do governo do premiê Jean-Pierre Raffarin, cuja impopularidade é apontada como um dos fatores da vitória do "não". Para substituir Raffarin, o presidente pode optar por "chiraquistas" leais, como o ministro do Interior, Dominique de Villepin, ou por Nicolas Sarkozy, seu principal rival dentro da legenda.
Em termos de União Européia (UE), a votação representa um formidável revés, ainda que não insuperável. O bloco já sofrera antes crises importantes, deflagradas por derrotas em plebiscitos. Foi assim com a Dinamarca em 1992 e com a Irlanda em 2001. Desta vez, contudo, quem disse "não" foi a França, o segundo país mais populoso da UE e que desempenhava, ao lado da Alemanha, o papel de motor da instituição. Para tornar o quadro um pouco mais sombrio, os holandeses vão amanhã às urnas e, segundo as pesquisas, também rejeitarão a Carta. Para vigorar, ela teria de ser ratificada por todos os 25 países-membros da UE.
Os europeus terão agora dois caminhos: ou enterrarão essa proposta de Constituição, tentando salvar alguns de seus aspectos por outros meios, ou o documento voltará a ser submetido, num futuro próximo, às populações dos países que os tiverem recusado. Além da França e da Holanda, os britânicos são fortes candidatos a dizer "não". A forte rejeição francesa, porém, lança dúvidas sobre a viabilidade de uma reversão do resultado mesmo sob outro governo.
Ainda é cedo para antecipar qual rota os europeus escolherão. Eles ainda precisam de tempo para assimilar o golpe sofrido. A UE, ao que tudo indica, sobreviverá, ainda que com mais problemas a resolver.

folha de s paulo

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